Cristalografia
Aos 24 anos, Pasteur é designado professor-estagiário no laboratório do químico Antoine-Jérôme Balard (1802-1876), seu ex-professor, de personalidade simples e bem-humorada, que descobriu o bromo.
Balard o apresenta ao experiente Auguste Laurent (1807-1853), que ajudou na fundação da química orgânica e trabalhava com a cristalografia. Pasteur começa suas investigações junto a este pesquisador de temperamento calmo, que o influenciará na formulação de hipóteses e teorias.
No início do século XIX, a Mineralogia e a Cristalografia eram inseparáveis das pesquisas óticas que se desenvolviam a passos largos. O polarímetro era um dos principais instrumentos utilizados, permitindo observar as modificações angulares que a luz sofria ao passar pelos materiais.
Dentre outras pesquisas, Pasteur vai se dedicar ao mistério do ácido tartárico, posto pelo químico alemão Eilhard Mitscherlich (1794-1863): porque dois produtos químicos aparentemente idênticos têm um efeito diferente na luz polarizada?
Após observações meticulosas dos cristais, Pasteur conclui que só os produtos nascidos sob a influência da vida são assimétricos, isto porque o seu desenvolvimento preside forças cósmicas que também são assimétricas. Constata que a dissimetria é a principal linha de demarcação entre o mundo orgânico e o mundo mineral, ou seja, demonstra que a dissimetria molecular é marca registrada dos seres vivos.
Esta descoberta esclarece a característica central dos isômeros, ou seja, moléculas idênticas, porém que desviam a luz de modo contrário.
Balard, que captou a importância destas conclusões, comunica-as a Jean-Baptiste Biot (1774-1862), que recebe Pasteur para uma entrevista e demonstração. Ao analisar o experimento, e visivelmente emocionado com o que via, Biot disse a Pasteur “Meu filho querido, em minha vida amei tanto as ciências que isso me faz disparar o coração” (Debré, 1995, p. 74).
Desde seus primeiros trabalhos, Pasteur se referia constantemente a Biot, que agora tinha a felicidade de conhecer. Este astrônomo, matemático, físico e químico, com o passar do tempo, irá considerar Pasteur igual a um filho adotivo, tamanha a proximidade científica e afetiva entre os dois.
Das críticas científicas aos conselhos mais pessoais, Biot desempenhou um papel ativo em toda a vida de Pasteur. Posteriormente, o filho de Pasteur receberá o nome deste amigo, que será também o padrinho da criança.
Referências:
DEBRÉ, Patrice. Pasteur. São Paulo, SP: Scritta, 1995.
DUBOS, René. Pasteur e a Ciência Moderna. São Paulo, SP: Edart, 1967.
PASTEUR VALLERY-RADOT, Louis. Images de la Vie et de l´Œuvre de Pasteur. Paris, França: Flammarion, 1956.
PERROT, Annick; SCHWARTZ, Maxime. Louis Pasteur le Visionnaire. Paris, França: Éditions de la Martinière, 2017.
Litografia de 1857 de Balard, químico francês. Descobriu o bromo aos 24 anos. Levava uma vida simples e estava sempre de bom humor. Foi professor de Pasteur na École Normale, que o convida a se tornar professor-estagiário em seu laboratório. Foi no laboratório de Balard que Pasteur, trabalhando com o ácido tartárico, descobre as formas dextrógiras e levógiras. Balard apresenta Pasteur a Auguste Laurent. | Moeda em homenagem a Balard, químico francês descobridor do bromo. | Auguste Laurent, químico. Ajudou na fundação da química orgânica. Seus trabalhos sobre cristalografia valeram-lhe a nomeação de correspondente da Academia de Ciências. De espírito muito original, Laurent reparou em Pasteur, e oferece que ele pesquise junto a ele. Pasteur gosta muito de trabalhar com este pesquisador de temperamento calmo, mas o trabalho dura poucos meses, pois Laurent se torna suplente de Dumas na Sorbonne. |
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Polarímetro usado por Pasteur. | Eilhard Mitscherlich, químico e físico alemão. Professor de química na Universidade de Berlim. Construiu o primeiro polarizador. Foi o primeiro a anunciar o mistério do ácido tartárico. Pasteur, na época um jovem químico recém-formado, se debruçou sobre este mistério colocado por Mitscherlich: porque 2 produtos químicos aparentemente idênticos tem um efeito diferente na luz polarizada? | Cristalografia e Dessimetria Molecular. |
Jean-Baptiste Biot, astrônomo, matemático, físico e químico. Membro de 3 Academias (Ciências, Belle-Lettres, Francesa). Em 1804, Gay-Lussac subiu num balão de hidrogênio com Jean-Baptiste Biot para investigar o campo magnético da Terra a elevada altitude e a composição atmosférica. Atingiram uma altitude de 4000 metros. | Moldes dos cristais. | Carta de Pasteur a Biot sobre o ácido racêmico. |
Caderno de experiências de Pasteur e amostras de ácidos tartáricos. |