Orçamento da Ciência
Em 1867, na qualidade de diretor do laboratório na Rua d´Ulm, Pasteur dirige uma carta ao imperador Napoleão III: “Senhor, minhas pesquisas sobre as fermentações e sobre o papel dos microorganismos microscópicos abriram à química fisiológica novas vias de que as indústrias agrícolas e os estudos médicos começam a recolher frutos. Porém o campo que resta percorrer é imenso. Meu maior desejo seria explorar com novo ardor, sem estar à mercê da insuficiência de recursos materiais (...) É chegado o tempo de libertar as ciências experimentais das misérias que as entravam” (Debré, 1995, p. 166).
No dia seguinte, Napoleão III pede a Victor Duruy que empreenda a construção de um novo laboratório na Rua Ulm. Contudo, em dezembro de 1867 surgem obstáculos que fazem parar a obra. Os créditos para a construção do novo prédio são recusados. Encontra-se dinheiro para levantar o novo Ópera de Charles Garnier, mas não há mais dinheiro nos cofres imperiais para a pesquisa científica.
Furioso, Pasteur publica um artigo para o jornal Le Moniteur Universel, intitulado “O Orçamento da Ciência” a fim de sacudir a opinião pública: “Laboratório e descoberta são termos correlatos. Suprimam os laboratórios e as ciências físicas se tornarão a imagem da esterilidade da morte (...) Deem-lhe os laboratórios e com eles reaparecerá a vida, sua fecundidade, e seu poder” (Debré, 1995, p. 166).
Algumas semanas depois, o imperador reúne todos os membros do governo e um areópago de cientistas: Louis Pasteur, Henri Milne-Edwards, Claude Bernard e Henri Sainte-Claire Deville. Pasteur recorda ainda a criação da função de estagiário, demonstrando a necessidade de iniciar os melhores alunos à pesquisa, e diz: “Olhem para os cientistas alemães. Eles moram nas cercanias de seu laboratório. Sigamos o exemplo!” (Debré, 1995, p. 168). Indo além, pensa que as próprias cidades deveriam se interessar pelos trabalhos científicos.
A passagem de Victor Duruy como Ministro da Instrução Pública ficará marcada pela atenção e ajudas concedidas aos homens de ciência, além de desenvolver uma amizade verdadeiramente pessoal com Louis Pasteur. Uma decisão de Duruy vai ser particularmente cara a Pasteur: um decreto generalizando a criação de laboratórios de pesquisa nas faculdades. A convicção de ambos os amigos de que a ciência constitui uma parte essencial do patrimônio nacional, assim como o apoio de Napoleão III, vão vencer os obstáculos administrativos: o desbloqueio de créditos para a continuação da construção do laboratório na Rua Ulm, o berço de prodigiosas descobertas.
Referências:
DEBRÉ, Patrice. Pasteur. São Paulo, SP: Scritta, 1995.
DUBOS, René J. Louis Pasteur. Barcelona, Espanha: Grijalbo, 1967a.
Ópera Garnier | Jornal Le Moniteur Universel. | Henri Milne-Edwards. |
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Claude Bernard. | Henri Sainte-Claire Deville. | Laboratório na Rue d´ Ulm em Paris. |
Victor Duruy. |