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Trabalho na ENS

Pasteur consegue uma transferência à Paris e uma promoção: em 1857 é nomeado administrador da École Normale Supérieure (ENS) e diretor de estudos científicos, a pedido do diretor da instituição, Désiré Nisard (1806-1888).

Instala-se na Rua d’Ulm, localidade onde futuramente funcionará seu laboratório, berço do vindouro Instituto Pasteur.

As funções administrativas daquela época demandam diplomacia, o que convém pouco ao temperamento inflexível de Pasteur, que professa um gosto, quase militar, pela ordem e hierarquia. Tomadas de posições autoritárias o privam de simpatias, o que não o preocupa.

Os alunos do científico, mais chegados a Pasteur, aceitam melhor o seu caráter, mas os de literatura suportam mal a sua tutela. Em uma das situações em que procura instalar a ordem, Pasteur pronuncia um discurso no refeitório anunciando que quem for surpreendido fumando nas dependências da École, será excluído. “Mas a falta não será por ter fumado, mas por ter desrespeitado a injunção que vocês estão recebendo agora” (Debré, 1995, p. 144).

Não obstante esta falta de jeito, a história da École vai guardar o seu nome. O papel de diretor de estudos científicos é certamente mais dotado do que o administrador. Pasteur intervém nos programas, e inova ao incluir a história do processo experimental, recordando os esforços individuais dos principais inventores.

Duas ações administrativas importantes são a atribuição de cargos de estagiários agrégés e a criação dos Annales scientifiques de l´École Normale, em que propõe redação gratuita, o que é aceito apesar dos riscos de não receber subvenções nem do Ministério nem da École Normale. “Possam esses Annales tornar-se uma honra e uma força para um estabelecimento cuja prosperidade caminha par a par com a instrução pública do nosso país” (Debré, 1995, p. 147).

Pasteur compreendeu que só formaria professores de valor se houvesse a possibilidade de eles exercerem uma função científica. Esta nova medida, ainda atual hoje em dia, liga o ensino acadêmico à prática da pesquisa, sendo L. Pasteur um pioneiro da dupla vinculação.

                                                                                                 

As instalações modestas do laboratório na Rua d´Ulm foram conquistadas a duras penas. No seu retorno à École Normale, a preocupação científica de Pasteur foi poder continuar suas pesquisas sobre as fermentações.

Naquela época, fazer pesquisa era feito que o professor de ensino superior consagrava o tempo que podia, com meios bastante escassos. O orçamento das faculdades só concedia mínimos recursos, destinados majoritariamente à preparação das aulas. Não sobrava quase nada para as pesquisas.

Mesmo em Paris, as condições de trabalho eram tais que se faziam ironias a respeito dos laboratórios, como se fossem os túmulos dos cientistas. Claude Bernard, por exemplo, efetuava seus trabalhos num laboratório estreito, onde a umidade transudava, o que o levou a adoecer.

Pasteur teve que se contentar com os últimos metros quadrados disponíveis na Rua d´Ulm: um recanto sob os escombros, inutilizado por ser julgado incômodo demais, em particular no calor do verão. Além disso, os cômodos eram invadidos por ratos e foi preciso começar por desinfectá-los. Pasteur não tinha nenhuma subvenção para instalar-se. Escreveu a Gustave Rouland, então ministro da Instrução Pública e acabou obtendo alguns subsídios.

Mas, para equipar e manter o seu laboratório com estufa, microscópio, produtos químicos e recipientes de vidro, o cientista utilizou o seu próprio salário. Pasteur também não tinha o direito de ser assistido por estagiários, que eram concedidos com parcimônia draconiana. Depois de inúmeras andanças aos chefes de gabinetes do Ministério, com uma tenacidade a toda prova, acabou por obter ganho de causa.

Com o primeiro estagiário, Jules Raulin, o cientista dividia um espaço bastante incômodo. A pequenez do local tornava difícil instalar uma estufa. Foi preciso colocá-la em local que só era acessível por meio de uma escada, pondo-se de joelhos. Pasteur, entretanto, passou horas neste local. “Foi deste pequeno pardieiro, de que hoje hesitaríamos fazer uma gaiola de coelhos”, testemunhará Émile Duclaux, o sucessor de Raulin, “que surgiu o movimento que revolucionou, sob todos os aspectos, a ciência da física” (Debré, 1995, p. 163).

Referências:

DEBRÉ, Patrice. Pasteur. São Paulo, SP: Scritta, 1995.

DUBOS, René J. Louis Pasteur. Barcelona, Espanha: Grijalbo, 1967a.

fachada
Désiré Nisard

Désiré Nisard (1806-1888).

Claude Bernard

Claude Bernard

Gustave Rouland

Gustave Rouland

Jules Raulin

Jules Raulin.

Émile Duclaux

Émile Duclaux.

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